“Vitórias em 2017, títulos em 2018”
Yves Matton é o homem forte da Citroen Racing. Neste regresso em força da marca ao Mundial de Ralis, Matton fala dos novos desafios.
Como foi estruturado o processo do regresso da Citroën ao WRC?
Esta decisão surge como resultado de vários parâmetros. Atingimos o final de um ciclo de três anos no WTCC, no momento em que a Marca estava prestes a lançar um produto estratégico: o Novo C3. Ao mesmo tempo, a FIA definiu toda uma nova regulamentação para o WRC. Dado que o C3 corresponde perfeitamente a esta definição, os planetas alinharam-se, para uma combinação que permitirá à Citroën explorar em pleno o seu compromisso para com o automobilismo.
Quais são os desafios impostos pela nova regulamentação?
Em primeiro lugar, acreditamos que esta é uma grande evolução face à anterior regulamentação. Mas é bem mais do que isso: o aumento da potência do motor, o crescente impacto da aerodinâmica e o regresso ao diferencial central pilotado são três grandes alterações. Temos uma experiência única sobre estes três pontos, fruto dos nossos anteriores World Rally Cars e da nossa atividade ao nível dos circuitos. Isso permitiu-nos avançar mais depressa e chegar especialmente mais longe na nossa abordagem.»
Como resume o trabalho alcançado desde o início do projeto?
É algo incrível. O timing foi tal que o nosso plano de desenvolvimento mostrou-se mais compacto do que o de qualquer dos nossos programas anteriores. Mesmo com a nossa experiência, houve que não perder tempo no projeto e desenvolvimento do carro. O savoir-faire da equipa ajudou-nos a acumular quilómetros sem grandes problemas, pelo que sem estes conhecimentos, teríamos sido incapazes de cumprir esses prazos.»
Há no Citroën C3 WRC traços de um Grupo B?
O C3 WRC evoca, de fato, esses carros que fizeram sonhar toda uma geração a que eu pertenço. Trinta anos depois e felizmente, tudo evoluiu, nomeadamente no plano da segurança. Mas esta imagem de furor e de agressividade que os pilotos terão de domar é um elemento que encontraremos na próxima temporada. Quando vi o Kris Meeke nos testes e ao volante pela primeira vez pensei que tínhamos alcançado a nossa meta. Há um lado extremamente espetacular nesta nova geração WRC.
Podem estes carros dar todo um novo elan ao WRC?
Os anteriores WRC têm sido muitas vezes criticados pela sua falta de agressividade, de impacto em determinados momentos, etc. O lado espetacular dos ralis manteve-se com as paisagens atravessadas, mas provavelmente faltava um lado mais ‘furioso’ que iremos encontrar agora. Espero que este vá ao encontro de um público mais jovem e que o efeito seja positivo para o campeonato como um todo.»
Qual foi o papel do Kris Meeke no desenvolvimento do Citroën C3 WRC?
Numa palavra: preponderante. Precisávamos de um líder, que tivesse uma grande bagagem técnica em termos de desenvolvimento. Há mais de 10 anos que o Kris desenvolve viaturas de competição para o Grupo PSA. Como engenheiro de formação, tal permite-lhe refinar a sua análise em determinadas situações. Se alcançámos o que programámos e em termos dos nossos objetivos, é também graças ao seu savoir-faire.»
Porquê a escolha do Craig Breen e do Stéphane Lefebvre?
Para alcançar o nosso primeiro objetivo, que é vencer ralis de um modo regular em 2017, já tínhamos o Kris sob contrato. Ao longo da última temporada ele mostrou ser capaz de lutar pelas vitórias em todos os terrenos. A seguir colocavam-se dois cenários: por um lado recorrer a um piloto experiente, rápido e com provas dadas, num potencial concorrente do próprio Kris para o papel de líder, por outro seguir a visão da Marca, nessa abordagem diferente e que aposta na juventude. Ao mesmo tempo, é uma opção na continuidade que a Citroën Racing faz há mais de 20 anos! Os resultados do Craig e do Stéphane têm demonstrado que temos no nosso viveiro dois talentosos e promissores pilotos, pelo que decidimos dar-lhes esta oportunidade. A médio prazo, eles irão ser o futuro do WRC.
Como se estruturam as vossas ambições ao longo das próximas temporadas?
Em 2017 queremos ganhar provas de um modo regular, frente aos nossos concorrentes. Em seguida, em 2018, pretendemos trazer para casa pelo menos um título mundial.
A herança Citroën constitui algum tipo de pressão adicional?
Quando leio alguns comentários, vejo que muitos aguardam que o C3 WRC seja competitivo logo desde a primeira prova. É certo que a pressão estará assente nos nossos ombros, sendo que a equipa possivelmente não está tão rodada quanto isso, pelo que precisa de um tempo de adaptação. Como sempre o fizemos, também aqui iremos abordar este desafio com muita humildade.