Novo Citroen WRC 2017 apresentado
Depois da sua aparição em 1997, os World Rally Cars foram evoluindo progressivamente nas suas definições, tanto no controlo das suas performances como no domínio dos custos. A alteração mais profunda foi introduzida para a temporada de 2011, com a introdução de modelos mais compactos com motores 1.6 turbo de injeção direta. A época de 2017 fica marcada pela entrada em cena de uma nova geração de carros, concebidos para serem os mais eficazes e mais espetaculares jamais vistos nas provas do Campeonato do Mundo!
Em todos os domínios, o Citroën C3 WRC excede os limites do que se fez até à data. Assim, a relação peso/potênca da última criação dos engenheiros da Citroën Racing é de 3,1 kg/cv, contra os 3,8 kg/cv do seu antecessor, num ganho de eficácia que não é meramente um questão de números, pois as vias alargadas, os fundamentais apêndices aerodinâmicos e a transmissão integral, agora equipada com um diferencial central pilotado, são alguns dos elementos que contribuem para esta verdadeira mutação tecnológica.
Um objetivo: o Rali de Monte-Carlo 2017
No gabinete de estudos, a avaliação da nova regulamentação e de uma arquitetura com base no novo Citroën C3 teve início em abril de 2015. Este trabalho de desenvolvimento foi aprofundado com ainda maior rigor a partir da validação do programa ao mais alto nível do Grupo PSA. A 19 de novembro desse ano, quando foram anunciados os planos desportivos futuros da Citroën, o C3 WRC já existia, se bem que numa versão virtual nas estações de trabalho em CAC (Concepção Assistida por Computador). Logo, de imediato, teve início a construção do primeiro protótipo nas oficinas adjacentes.
A 11 de abril de 2016, Kris Meeke instalava-se ao seu volante para um primeiro contacto no circuito de Versailles-Satory. De seguida, a equipa rumou a Languedoc para efetuar a primeira sessão de testes nas pistas de terra de Château Lastours. O carro contava com uma decoração camuflada, destinada a esconder os traços do estilo do Novo Citroën C3, modelo que ainda não tinha sido desvendado.
Ao ritmo de uma sessão de testes de quatro a cinco dias por mês, o desenvolvimento prosseguiu em diversos tipos de piso, em busca da fiabilidade e da performance. No final de junho, foi alcançado um ponto essencial com a chegada de uma segunda unidade, destinada a rolar em asfalto.
Nos bastidores, o gabinete de estudos prosseguia na busca de novas evoluções, ao mesmo tempo que se realizavam diversos testes em túnel de vento, antes de se concluir, em definitivo, as formas da carroçaria.
Confirmado como piloto offcial da Citroën Racing até 2018, Kris Meeke efectuou a maior parte dos testes dinâmicos. Em cada sessão, o seu trabalho era corroborado por Craig Breen e Stéphane Lefebvre, que no último dia assumiam as funções do britânico.
No total, o Citroën C3 WRC acumulou 10 sessões de testes para um total de 9 500 quilómetros.
A última etapa, indispensável antes da estreia do carro em competição, foi a sua homologação pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), que teve lugar a 13 de dezembro último.
O melhor motor jamais concebido pela Citroën Racing
Desde 2010 que a Citroën Racing desenvolve e constrói os seus próprios motores, no âmbito da regulamentação FIA Global Racing Engine (GRE). A arquitetura baseada num bloco quatro cilindros de 1.6 litros, com turbo e injeção direta, permite aos construtores aplicar o seu savoir-faire em diversos campeonatos. Assim, a Citroën apoiou-se na sua experiênca no WRC para conceber o motor do Citroën C-Elysée WTCC. Desta feita são os ensinamentos recolhidos ao longo de três temporadas passadas nos circuitos a servirem de base na concepção do motor do Citroën C3 WRC.
Tal como os seus dois antecessores, o motor Citroën Racing é construído a partir de um bloco em alumínio. Esta verdadeira peça de ourivesaria tem de estar em conformidade com os exigentes regulamentos em termos de peso mínimo e da altura do centro de gravidade.
A maior performance aguardada para 2017 é explicada pelo fator principal: a alteração do restritor de admissão de ar do turbocompressor, que passa de 33 para 36 mm. O aumento de potência é de cerca de 20%, chegando agora aos 380 cv. Em contrapartida, a limitação da pressão do turbo nos 2,5 bar não permite aumentar o binário, que se mantém em cerca de 400 Nm.
Como o motor do WTCC já funcionava com um restritor de 36 mm, os engenheiros da Citroën Racing puderam, facilmente e com total confiança, proceder ao aumento do débito da carga interna. Este avanço tecnológico foi utilizado para um desenvolvimento ainda mais completo, até ao mais ínfimo pormenor. Em colaboração com os engenheiros químicos da Total, foi feito um trabalho profundo em termos da redução do atrito, o que permitiu melhorar o rendimento e a eficácia.
Mais do que nunca, a fiabilidade esteve no centro das atenções dos engenheiros. Com uma quota limitada a 3 motores por carro e por temporada, o caderno de encargos é comparável ao do próprio WTCC, onde a mecânica fará menos quilómetros, mas a uma velocidade média superior.
Aumento da eficiência do chassis em todos os terrenos
A arquitetura do Citroën C3 WRC é semelhante à dos seus antecessores. A coque de série é cortada de forma a receber as asas traseiras em material compósito, o arco de segurança, o túnel da transmissão e as subestruturas que suportam os eixos rolantes.
O C3 WRC é o primeiro World Rally Car da Citroën feito com base numa carroçaria de cinco portas. As traseiras são abandonadas, mas esta configuração de base obrigou a importantes alterações em termos de implantação e ergonomia, de forma a optimizar a posição da equipa, tendo em conta os critérios de repartição de peso, de visibilidade e de segurança passiva.
Este último aspecto esteve no centro das atenções dos engenheiros da Citroën Racing e dos peritos da FIA. Não foi feita qualquer concessão em termos do que é fundamental para a protecção da equipa, principalmente em caso de colisão lateral. Deste modo, as portas apresentam-se agora reforçadas com um espaçador em material compósito, uma espécie de AirBump® mas com propriedades mais avançadas! O seu interior é guarnecido com uma espuma de elevada densidade destinada a absorver a energia, enquanto que as bacquets beneficiam de novas proteções ao nível da cabeça.
Mais em detalhe, verifica-se que os regulamentos de 2017 conferem limites mais amplos de criação aos engenheiros. O mais visível diz respeito ao aumento da largura máxima (+55 mm), que passa a ser de 1855 mm, de forma a proporcionar um comportamento mais estável e novas soluções aerodinâmicas.
Sendo uma parte essencial para a motricidade e para a percepção dos pilotos face ao comportamento do carro, a suspensão foi alvo de uma profunda revisão. Concebidos e construidos pela Citroën Racing, os conjuntos mola/amortecedor apresentam-se agora inclinados, de forma a aumentar o seu curso. Entre as inovações mais significativas introduzidas no C3 WRC, a geometria da suspensão passa a ser diferente entre as versões de asfalto e de terra.
A transmissão integral beneficia igualmente de modificações importantes, com o regresso do diferencial central controlado hidraulicamente. Este dispositivo – presente nos Xsara e C4 WRC – permite aos eixos dianteiro e traseiro rodar a velocidades diferentes. Assim, o controlo da pressão hidráulica através da embraiagem central possibilita a transferência de binário de um eixo para o outro, de modo a anular a subviragem e reduzir a eventual patinagem das rodas.
Um design musculado
Ao primeiro olhar, o Citroën C3 WRC impressiona de imediato pelo seu design musculado e pela sua morfologia original. Tal como o C3 de série, o C3 WRC exprime robustez, força, frescura e energia.
As modificações aerodinâmicas, autorizadas por um regulamento mais liberal, têm um papel ativo na performance do carro. O apoio gerado pelos apêndices permite aumentar a estabilidade a alta velocidade, enquantos as entradas de ar asseguram a refrigeração do motor e dos travões. Foram testadas múltiplas soluções antes de se chegar à versão definitiva da carroçaria. Para encontrar as diferencas, basta examinar com atenção as fotografias tiradas ao longo dos meses.
A secção dianteira elevada, característica do modelo, inspira robustez. Integra-se no prolongamento da linha de cintura, por formar a criar uma silhueta mais forte e equilibrada. A assinatura luminosa de dois níveis, os chevrons e a sua dupla barra cromada alongam-se aos faróis LED, expressando a identidade da Citroën. Sendo uma peça fundamental na performance aerodinâmica, o pára-choques dianteiro integra uma lâmina e aletas capazes de gerar apoio para redução da subviragem. A secção inferior é diferente nas versões de terra e de asfalto. As tomadas de ar canalizam ar fesco para o radiador, intercooler do turbo e travões. O ar quente é expulso pelas aberturas situadas no capô e na parte inferior dianteira, abaixo das aletas.
Visto de perfil, destaca-se o tejadilho flutuante em preto, apoiado nos montantes do para-brisas. O trabalho em torno das proporções entre as superfícies em metal e vidradas sublinha a dimensão protetora do Citroën C3 WRC. Na parte inferior, o modelo distingue-se por secções de grandes dimensões que canalizam os fluxos de ar laterais. As aberturas integradas nas estruturas laterais traseiras permitem arrefecer os travões e, tal como acontece na frente, a extração de ar efetua-se pelas aberturas inferiores.
Igualmente bastante trabalhado, o pára-choques traseiro favorece a eliminação da terra e da neve em pisos moles e/ou lamacentos. Essas formas revelam a procura aerodinâmica e alinham com a dinâmica 3D dos grupos óticos, conferindo ao Citroën C3 uma identidade única e tecnológica. Dissimulado pela saída de escape central, o difusor apresenta um extensor de apoio à exaustão dos fluxos de ar que passam por cima do veículo.
Por fim, o dispositivo aerodinâmico fica completo por um impressionante aileron, composto por uma plataforma inferior e por um complexo plano superior. Para um acréscimo de eficácia, o conjunto está agora mais recuado e é maior do que o permitido pela anterior regulamentação.