“Demonstração de civismo por parte do público”
(ENTREVISTA DE ANDRÉ RODRIGUES)
O Rali de Portugal está quase na estrada. Nada melhor que ler o que o Diretor de Prova, Pedro de Almeida, tem para dizer essencialmente sobre a segurança.
Quais as expectativas para a edição 2015 do Rali?
Não é difícil prever um enorme entusiasmo à volta do rali neste seu regresso ao norte do país, por parte das equipas, dos pilotos, da comunicação social e, naturalmente, do público.
O que todos esperamos é que a prova seja interessante do ponto de vista desportivo, um sucesso em termos organizativos e uma demonstração de conhecimento e civismo por parte do público.
Que crescimento prevê em número de espetadores com a mudança do Algarve para o Norte?
É uma estimativa difícil, mas admito que, sobretudo com boas condições meteorológicas, o número de espectadores possa duplicar por comparação com as últimas edições da prova.
A segurança foi reforçada? Quantos meios estarão ao vosso dispor?
O conceito-base do Plano de Segurança, desenvolvido e testado ao longo da última década, não se alterou pelo facto de a prova se deslocar para outra região. Vários fatores diretamente relacionados com a geografia da prova, entre os quais uma maior dispersão das classificativas e um mais que previsível crescimento do número de espectadores, implicaram um significativo reforço dos meios humanos e materiais envolvidos na operação, nas áreas técnica, logística e, particularmente, de segurança. Neste último capítulo, refiro-me tanto à segurança do público, como dos próprios pilotos e recordo que, para além de dezenas de locais que irão ser protegidos com barreiras de pneus, foram instalados ao longo das classificativas mais de 6 km de novos rails. No seu conjunto este reforço de meios implicará um custo adicional na ordem de várias centenas de milhares de euros.
A limitação exclusiva do público a 33 “zonas verdes” é sinal de que a segurança será ainda mais apertada?
Nesta matéria, as regras não sofreram qualquer alteração, sendo que há muito que foi definido o conceito Zona Espetáculo versus No-Go areas. Por outras palavras, tal como acontece em qualquer recinto desportivo e, por maioria de razão, quando se assiste a uma competição motorizada onde os riscos são muito elevados, há espaços destinados ao público e outros onde a sua presença é proibida. Para que uma determinada área junto ao troço seja considerada uma Zona Espetáculo é necessário que cumpra quatro critérios bem definidos: facilidade de acesso, visibilidade, espetacularidade e segurança. Considerando todas as classificativas desta edição do Rally de Portugal, o número de zonas que satisfazem estes critérios (não para uma dezena de amigos mas para vários milhares de espectadores) não chegará às quatro dezenas. E algumas delas não podem ser consideradas como Zonas Espetáculo por necessitarmos dos respetivos acessos para garantir vias de evacuação destinadas aos veículos de emergência.
Sobre este ponto, o que diz aos que defendem que há um “excesso de rigor” da FIA em relação a Portugal….
A atual posição do Rally de Portugal no quadro do WRC é fruto de muito trabalho, do facto de tentarmos implementar, em todas as circunstâncias, as melhores práticas conhecidas e de nos compararmos sempre com aqueles que melhor fazem em qualquer das áreas do processo organizativo. Se a nossa bitola fossem os exemplos menos sucedidos, nunca teríamos regressado ao Mundial e muito menos teríamos conseguido a situação estável em que o rali hoje se encontra.
Com o aumento de espetadores previsto e a “enchente de espanhóis”, como planeiam impedir a presença de pessoas fora das “zonas-espetáculo”?
Desde logo através da informação disponibilizada, quer sobre aquilo que cada zona oferece em termos de visibilidade e espetacularidade, quer sobre os respetivos acessos. Além disso, a maioria das Zonas Espetáculo prolonga-se por várias centenas de metros (mais de um quilómetro em alguns casos), permitindo que o espectador possa disfrutar de várias opções para visionar a prova, confortavelmente e sem ter que se deslocar para outra classificativa ou para outra ZE. A verdade é que só com a colaboração de todos será possível levar o barco a bom porto. Apelo por isso sobretudo aos apaixonados da modalidade, aqueles que conhecem as regras e tem a experiência necessária para avaliar os riscos envolvidos neste desporto, a que transmitam os seus conhecimentos aos espectadores menos avisados, evitando que corram riscos ou que assumam comportamentos que possam por em causa a continuidade da prova.
Comparativamente à prova no Algarve, para fazer face às características do Norte os troços vão fechar mais cedo e o acesso às especiais será feito de outra forma?
Sim, os troços vão ficar encerrados ainda mais cedo e o acesso à maioria das zonas destinadas aos espectadores só será possível a partir de uma hora definida para cada troço, mas que em média ronda as 5 horas da manhã, o que significa entre 4 a 6 horas antes da passagem do 1º concorrente.
Que recetividade obtiveram da FIA com esta mudança para o Norte? Alguns pilotos e patrões de equipa gostavam muito da fórmula “Algarve + Fafe Rally Sprint”…
A FIA apoiou esta ideia desde a primeira hora e pode até dizer-se que algumas pessoas posicionadas em cargos de responsabilidade pressionaram o organizador nesse sentido. No entanto, não tenho qualquer dúvida que se as coisas correrem mal as mesmas pessoas vão assobiar para o lado e tais apoios e pressões cairão para zero…
É conhecido o desinvestimento do Governo e nomeadamente do Turismo de Portugal na prova. De que forma esta condicionante foi contornada?
Trata-se de uma decisão inexplicável, desde logo se considerarmos o retorno em termos económicos e de imagem que o Rally de Portugal proporciona ao País e à região onde se desenrola. Estamos a falar do evento desportivo de maior retorno desde o Euro 2004 e é impossível compreender uma decisão deste tipo no momento em que o Rally se deslocou para o Norte. Felizmente que o Turismo Porto e Norte e as Câmaras Municipais de Amarante, Baião, Caminha, Fafe, Guimarães, Lousada, Matosinhos, Mondim de Basto, Paredes, Ponte de Lima Valongo, Viana do Castelo e Vieira do Minho uniram esforços e, através de uma candidatura à CCDR-N, criaram a s condições mínimas para que o Rally de Portugal 2015 fosse uma realidade.
A mudança para o norte foi, obviamente, uma decisão ponderada, mas que tem certamente um risco associado. O potencial de risco mais elevado pode implicar a não-realização da prova no futuro caso encontrem problemas em 2015?
O Automóvel Clube de Portugal é o promotor e o organizador do Rally de Portugal, competindo-lhe tomar as decisões que garantam o sucesso desportivo e organizativo da prova e a sua sustentabilidade financeira, com vista à permanência do rali no patamar mais elevado da modalidade a nível mundial. Nesse sentido, todas as opções estão em aberto, mas é evidente que uma decisão como a de levar a prova para o Norte do País não se toma de ânimo leve, nem apenas para uma única edição. Em todo o caso, eu diria que, independentemente da zona onde se realize, o rali é de Portugal e o Norte tem que justificar o seu desejo – ou o seu direito, como se preferir – a ter o Rali de Portugal. As Câmaras Municipais envolvidas neste processo deram um exemplo extraordinário, nomeadamente levando a cabo um excelente trabalho de reabilitação dos troços do rali. Agora é a vez de os espectadores nortenhos afirmarem que este é o seu rali, mostrando que são dignos de todo o esforço desenvolvido pelo ACP e pelas autarquias da região.
A título pessoal, e tendo em conta o seu passado e experiência como navegador, diretor comercial do Volante, comissário e diretor de prova, que “diferentes visões” do rali foi tendo à medida que foi assumindo essas funções? Como é que o Pedro de Almeida “navegador”, por exemplo, via a prova, e como é que ele olha hoje para ele na função de máximo responsável?
Há coisas que não mudaram. Tal como acontecia nos anos 70/80, o Rally de Portugal é a prova estrela da modalidade no nosso país. Uma participação destacada no RP, e particularmente a posição de melhor português na classificação final, valia tanto ou mais, pelo menos em termos de notoriedade, que a vitória em qualquer rali do Nacional ou mesmo que a conquista do campeonato. Mas para nós praticantes, o Rally de Portugal era também uma alavanca importante do ponto de vista financeiro, já que só integrando a prova no nosso programa desportivo se conseguiam os apoios indispensáveis para toda a época. Pese embora toda a tecnologia atualmente à disposição das equipas e o maior profissionalismo dos nossos praticantes, penso que estas realidades de então não deverão ser hoje muito diferentes.
Pode ler a entrevista na sura totalidade na revista Turbo 405 (junho de 2015).
Foto site rallydeportugal.pt