“Já estou com saudades…”
Foi tão saboroso terminar este rali. Nada foi fácil, mas com uma bela equipa e uma excelente planificação chegámos ao fim no 48º lugar. A classificação é o menos importante, as provas duras ou se ganham ou terminam-se. Estamos no lote dos 56 pilotos que venceram o desafio na edição número cinquenta, deste que é considerado por todos um dos mais bonitos e bem organizados ralis do WRC. Este ano foi uma festa incrível, com os troços repletos de público.
A nossa manhã começou com a especial dos cogumelos. O nome verdadeiro é La Mussara, mas quando vamos reconhecer estes loucos 20,4 quilómetros, há gente por todo o lado, a apanhar cogumelos. O Janela gosta desta PEC pelo nome meio árabe, eu gosto pelo traçado que é exigente em todos os centímetros. Começa numa zona rápida, muito estreita com piso irregular onde ultrapassamos os 200 quilómetros hora em vários pontos. Pelo meio várias curvas apertadas com travagens fortes e saídas a escorregar. No final uma dúzia de quilómetros completamente encadeados a pedir tudo aos travões e ao piloto. Nada respira naquelas curvas, nem os travões, os diferenciais, os pneus, o navegador… e o piloto.
As notas de andamento são qualquer coisa como isto: direita 2, fica para esquerda 2 menos, 10 metros, direita 2, logo esquerda 3 a fechar na saída, 20, esquerda 3…trava forte para esquerda…atenção escorrega, está suja…cuidado…estreito… UFA!!…
Chegámos ao fim e quando tentei parar o carro depois do stop o pedal dos travões bateu no fundo…e nada…Os senhores que iam confirmar os pneus lá se desviaram e a coisa correu bem. Parámos com o travão de mão…e lá deixámos a máquina arrefecer para tudo voltar ao normal.
A segunda especial foi Riudecanyes (15,55 km). É um traçado exigente, mas sem grandes dores de cabeça. Parámos na assistência e recomeçou a segunda volta pelas mesmas duas especiais. O carro foi todo revisto, os travões sangrados, pastilhas e discos acertados e ficou tudo novo.
Na entrada dos “cogumelos”, já prontos para partir fomos informados que havia um acidente e que o troço iria ser neutralizado. Significou fazer a especial em “passeio”. Foi um momento bonito com o público a vir para as bermas da estrada a aplaudir aquela parte final do pelotão do mundial. Fomos o tempo todo a acenar, partilhando com todos a festa de estar quase a terminar um rali destes. Não sei como foi ali parar tanta gente, mas estava particularmente bonita a moldura de adeptos que se deliciou com um rali competitivo e com os pilotos a darem sempre o seu melhor.
Fizemos a última especial com sabor a despedida, mas empenhados em não deixar chegar à nossa traseira um “bravo” que tripulava um Peugeot e estava apostado em “dar uma malha” nestes “velhinhos”. Não teve esse prazer…
Depois a assistência, com a felicidade estampada no rosto de todos. Tínhamos conseguido, eu e o Janela, mas também todos os que prepararam o carro e nos apoiaram nesta aventura no WRC. Recebemos a medalha, celebrámos com a equipa e depois um banho de bar e duas “fresquinhas”… para fazer descer a temperatura.
Já estou com saudades deste fabuloso carro que espero voltar a tripular no Rali de Portugal do próximo ano e voltar aqui à Catalunha. Não me levem a mal, mas adoro este rali. Obrigado a todos, voltaremos!